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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mil atmosferas

Chego em casa e, sem nem ao menos me olhar, minha cachorra sabe o que está se passando aqui dentro. Sem nem eu mesma entender tudo isso, ela sabe o quanto eu preciso de lambidas e rabo balançando pela minha presença. Nós, humanos, somos capazes de colonizar o universo, construir grandes redes de comunicação, destruir o mundo. Por mera ironia, somos capazes também de criar vidas artificialmente. Nós podemos tudo. Sempre que eu olho para a minha cachorra porém, fico pensando em quanto somos frágeis, em quanto somos criaturas apenas em estágio experimental. Quantos rostos, quantos corpos, quantas pessoas todos os dias cruzam os nossos caminhos e somos incapazes de enxergar tantas histórias, tantas marcas, tantos traumas. Histórias, marcas, traumas. Afinal, de que somos feitos? Dentro de nós habita um software ou uma história? Nossa história nos deixa como herança robôs ou marcas? Viver é um eterno perde e ganha. Perdemos tudo. E ganhamos o que? Quando a gente encara a morte, física ou sentimental, quando a gente se ilude, quando a gente não se supera, quando a gente sente dor, quando a gente ama sem ser amado, quando a gente sente o gosto amargo da vida sendo esfregado na nossa cara. O que a gente ganha? Um martelo? Uma chave inglesa? Um parafuso? A gente é feito de lógica ou interpretação? A gente ganha traumas. Você, eu, o mundo todo. Há quem saiba assumir, há quem saiba se mostrar, há quem não se esconda atrás de logs, cálculos e física quantitativa. Entretanto, talvez você não saiba. Eu, a mulher das palavras, do português, dos sentimentos, dos textos, da interpretação. Eu que sei ser o espelho de tanta gente e assumindo o que todo mundo sente sem assumir, as dores, os vômitos, as neuras, sirvo de Judas e estou sempre ali, em pleno julgamento. Eu também não sei lidar com as suas migalhinhas. Eu não sei lidar com esse seu jeito gente boa como recompensa por eu te querer tanto e não ser nem metade do que você sonha, com esse seu sorriso lindo, certinho de agradecimento por cada declaração apaixonada que você não pode corresponder, com esse seu jeitinho todo seu de fazer eu me sentir tão para baixo por não ser as pernas, as bundas e os peitos que tanto te agradam. Eu não sei lidar com essa coisa de você estar no mundo e não ser meu. Nem por um segundinho, nem em um cantinho escondido, nem em um suspiro no meu lençol da Minnie. Eu não sei lidar com essa sua existência ausente. Eu não sei se você sabe mas eu fujo de você todos os dias. Em cada pensamento, em cada engolida a seco, em cada "oi" superficial. Eu estou sempre ficando com vontade de ir. Eu me afundei a cada dia mais por querer. Você cumpriu todas as etapas para me deixar de quatro: achou sem importância o que eu dizia, me cortou, falou de milhares de outras, me botou para baixo, me ofendeu. Me colocou no meu lugar. Você aí, vivendo sozinho, trabalhando, com a vida "meia" encaminhada. E eu aqui, querendo logo fazer dezoito para entrar nas boates, prestando vestibular, feliz por ter passado em um curso de segunda opção, vivendo entre bonequinhas e mimos de papai e de mamãe. Eu realmente sou uma grande merda nenhuma. Era só isso que faltava: você deixar de ser o cara legalzinho, simpático, gente boa e começar a dar umas porradas na minha cara. Eu no fundo sou igual a sua ex, eu no fundo sou igual a todo mundo. Você se acha muito adulto e talvez seja mesmo. Você acha muito difícil trabalhar oito horas por dia e depois ainda ter que cozinhar e talvez seja mesmo. Mas queria ver como você se sairia sendo eu então. Como você lidaria com essas milhares de mulheres diferentes que estão aqui dentro e brigam o tempo todo, e me machucam o tempo todo para saber quem vai predominar. Eu sou vagabunda, suja e fútil. Eu sou falsa, mesquinha e baixo nível. Sou muito mesmo. Sou desse tipinho que não vai te dar sossego, que vai te fazer pedir arrego e que depois vai reclamar da sua incompetência. Que vai pegar o seu celular, vai anotar o número de todas as mulheres das suas últimas chamadas e vai infernizar a vida de todas elas. Uma a uma. Ué, como você nunca soube disso? Aqui dentro tem também uma menina tão bobinha, tão pura, tão inocente. Tão cheia de sonhos e ilusões. Ao lado, a mãe castradora que reprime todos os desejos. Depois a avó, com um coração gigante e com uma vontade maior ainda de abraçar e cuidar do mundo. De perdoar o mundo inteiro. O herói medieval que liga no dia seguinte, implora e manda presentes. Eu sou tudo mas você só me enxerga como um nada e ser nada foi o que eu fui a vida inteira. Para você, para ele, para todos os outros. Eu não sei amar sem ser insana. Você está indo embora como todos eles foram. Você bagunçou um pouquinho a minha vida mas achou sem graça eu ser a marionete. Eu até chorei, assumo. Eu até me desesperei, eu até fiz todo aquele meu teatro de me cobrir até a cabeça e me esconder do mundo como nas novelas. Você teve direito ao repertório completo. Mas eu já vi este filme antes: você vai todo lindo e eu fico aqui me sentindo usada, errada, criança. Pois é, você não foi o primeiro. Então tá. Tudo bem. Deixa assim. Não dá para discutir com a sua grandeza. Eu aceito ser só o tapetinho. Consegue ouvir? Olha só: meus pulmões estão se expandindo! Agora eu consigo respirar.

Beijocas :*

sábado, 13 de março de 2010

(In)suportável

Fixou os olhos em um ponto qualquer e manteve-se estática, sem forças ou coragem de olhar se quer para o lado. Tempo e espaço fundiram-se naquele ponto qualquer da parede rosa e ali ela ficou sem esperar nada. Esperando tudo, espero quaquer coisa sem de fato esperar algo. Da espera surgem as angústias, as frustrações. Seu corpo não era mais matéria, por alguns momentos foi absorvido pelos pensamentos. Todos a viam ali mas nas lembranças, nas perguntas sem respostas e na própria vergonha de ser quem é e de estar onde está é que ela se encontrava. E se perdia cada vez mais. Foi acostumada a levantar, a engolir o gosto amargo e pegajoso de tudo que pressionava e fazia saltar suas veias e escovar os dentes com menta para mostrar ao mundo o frescor que de fato não tinha. Ela apenas esperava. Esperava. Espera. "Tempestade um dia passa.", disse o sábio e todo vazio tinha sentido e alívio por alguns segundos. Inclinou um pouco a cabeça. Era o primeiro gesto banhado de coragem e de mudança. Fechou os olhos e perdeu-se um pouco mais, agora no escuro que dentro dela ofuscava e engolia o rosa chiclete das paredes. Aos poucos tudo começou a ganhar forma. O travesseiro era o peito, o resto não tinha importância. Não lembrou da cabeça, dos braços, das pernas e nem dos dedos. O mundo agora era só aquele travesseiro. Recostou a cabeça e levemente a mesma afundou por entre penas e plumas. Fez dali seu novo ninho. "Eu cuidaria de você em qualquer situação.", ele sussurrou com cheiro de menta. Ela segurou com força a cama para não voar e quis ser cada vez menor e vulnerável para caber, agora inteiramente, naquele peito. Beijou-o com a pureza de mãe e filho e transbordou saudade, conforto, paixão e algo que ninguém, até agora, soube dar um nome. Não por acaso o sentimento mais gostoso de todos. Tinha gosto e cheiro de menta. "Eu quero que o mundo me magoe sempre se no final for me perdendo em você que eu me encontre de novo", confessou a menina. Ele apenas sorriu e abraçou-a. Quase viraram um só. "Eu te ..", ele calou-a com os dedos. "Não fala nada. As palavras são traiçoeiras. Apenas fica paradinha. Apenas deixa eu cuidar de você como prometi e me mostra assim, o quanto nossas existência nesse mundo de insanos estão interligadas. Palavras e todo o resto são mutáveis, o que sentimos não. Ao menos enquanto durar esse momento.". Fez que sim com uma piscada doce de olhos e desligou-se de tudo que nunca tinha ligado para ela. Tudo tem a sua hora, até o adeus. Mas seu tempo, os minutos não podiam mais controlar. Colou o ouvido no travesseiro e contou os segundos a partir dos batimentos que ouvia. Tudo agora era ele. Tudo enfim tornou-se suportável.

Beijocas :*

domingo, 24 de janeiro de 2010

Lamentos enrustidos

Não digo que voltou, não por nunca ter ido, mas por não mais sofrer. Dor, palavra que melhor te descreve. Até na felicidade havia agonia. Felicidade programada para o fim breve. Eu sempre soube. Nossos beijos, até os primeiros após as reconciliações, eram os últimos. Eu estava preparada todo dia para ouvir o adeus que você nunca teve coragem de dizer mas que de alguma forma matava a gente um pouquinho mais conforme o tempo passava. Você era a minha bomba relógio e eu havia escolhido ser kamikaze: escolhi você todas as vezes que me deram a opção de mudar e mergulhei de cabeça sempre que pude na piscina rasa que era o nosso relacionamento. Fratura exposta, todo mundo viu a tragédia que foi o nosso fim. Não digo que você foi de todo o mal, afinal, a minha felicidade era sincera, era completa. Nosso romance sempre foi metade. Metade minha. Amor meu. Você era o meu amor, agora você é o amor dela. E ela é o que eu nunca fui. Amor seu. Não digo que seja saudade, tão pouco sofrer, mas penso que o seu bem começou juntamente com o meu mal. Eu estava esperando você e esperei até pouco tempo atrás. Esqueceu de mim nos braços dela. Por falar em braços, não pense que seja dor de cotuvelo. Era, não é mais. Não me pergunte o porque de tudo isso agora, nem lamento é. Olhei pela minha janela as folhas que formavam quase um tapete no asfalto e me dei conta da inconstância da vida, sem medo de parecer louca. Louca fui quando contigo insisti. Passou e se eu me esfroçar, no fundo encontro o vazio que você deixou. Abandonou o lugar que em mim tinha mas deixou a luz acessa. Sabe como é, a conta ficou muito cara e tive que suspender. Ainda existe o seu cantinho, mas a escuridão, a poeira, o silêncio e a melancolia predominam. Tentar não deixar você ir é viver mal assombrada. Vai. Voa. Faz do ninho dela tua nova morada e deixa meu coração livre para novamente amar. Não foi fácil gravetinho por gravetinho reconstruir-me, e chocar o nosso amor em vão foi frustrante. O ovo realmente ficou entalado. Olha, mas agora ele se quebra. Renascimento. É oco e este novo espaço transformo no que quiser. Não volta, nunca mais. Nem para explicar o que não tem explicação. Apenas me evite e me deixe saber o quão viva em você estou. Alimente-a com a sua minhoca, e alimente meu novo eu com o fantasma do que nunca chegou a ser. Não digo que seja vontade de voltar. É apenas vontade de te marcar como um boi e deixar doer em ti, pouco que seja, o que em mim foi suplício e fazer valer a pena tantas coisas que eu achei que haviam se perdido. É apenas vontade de te esquecer mas de ser lembrada. Vontade de incomodar.

Beijocas :*

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Flashback

Você me pergunta o que está acontecendo comigo e tudo que está na iminência de ser expelido volta. E embrulha o meu estômago. Aquele vai ou não vai, querendo ir mas achando mais seguro ficar. Você me pergunta se eu estou triste, se foi algo que você fez e por um momento eu penso em te contar. Mas acabo ficando quieta esperando que você me engula. Eu queria muito resolver, aliviar tudo isso. Relax, take It easy. Mas você é tão fantástico que por egoísmo, fissura ou massoquismo eu prefiro prolongar o que eu já nem mais sei se é dor. Amoleço ouvindo a sua voz mansa e ficaria ali até que você me tomasse nos braços e, mesmo tendo o silêncio como trilha sonora, me mimasse por mais alguns momentos. Ou pela eternidade, se você quissesse. Eu me sinto tão vulnerável perante a sua grandeza. Não, não houve nada. Tirando a minha imaginação fértil e o meu coração infértil, tá tudo certo. Tá tudo legal. Queria te falar sobre tantas idéias que somem ao descobrirem que vão virar palavras. Eu estou com medo. Eu sei que vai soar como um clichê exagerado, mas eu estou com medo de perder você. Você me diz que ele vai voltar, prossegue com um riso orgulhoso da piada anterior e eu te pergunto se o que nunca veio pode voltar. Silêncio. Fico surda e continuo muda, agora movida pela vergonha de ser eu mesma. Se não delirei, escutei um suave: "Você acha impossível?". Eu não acho nada. Durante toda a minha vida eu achei muito e hoje é o pouco quem me acompanha. Eu não quero planejar, imaginar cores, formas, cheiros para o que eu nem sei se vai existir. Se vai voltar. Fora de mim, é claro. Mas eu não consigo. You make me crazy! Já te falaram isso, estou ciente. Eu tenho medo de como estou amorfa longe de você e de como você preferiu, prefere e prefirirá milhares de outras formas por aí. Eu tenho medo de te perder, repito. Perder o (pseudo) amor, o amigo, o homem. Perder tudo. Perder todos. E é exatamente por temer tanto te perder que eu me perco no meu silêncio, nas palavras não ditas e apenas fecho os olhos e peço para que o cara lá de cima seja legal dessa vez comigo. E apenas peço para que exista um pouco de realidade nas minhas fantasias. Não sei porque, acho que já vi esse filme antes ..

Beijocas :*

domingo, 3 de janeiro de 2010

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Hoje escrevo para homenagear quem por si só já é homenageada, quem por si só é exclusiva. Escrevo sobre aquela que não podemos descrever mas que passamos grande parte de nossas vidas tentando traduzir. Sentimos do que se foi e do que não chegou a ser. Ouso dizer que principalmente do último. Pode ser tudo, por não ter sido nada. Sem título, sem descrição, com alma. Pura alma. Alma pura. Às vezes aperta, esmaga tanto que acabamos deixando solto aquilo que prendemos com esforço, mas também refletimos sem perceber o que de mais sincero e feliz temos no nosso eu deconhecido por nós mesmos. É contraditória e em muito momentos chega sem razão alguma. Um cheiro, um gosto, uma música, um lugar. Desprovida de fórmula, tem a forma que a gente quiser mas vêm a tona sem a gente querer. Sinto de mim. Sinto de quando não tinha alguma consciência que fosse da dimenção de tudo isso. Medo, receio. Sinto dele. Sinto de quando tinha milhares de planos escritos na areia e a tempestade nem anunciava vir. Mágoa, questionamento. Sinto do que desconheço. Sinto do que existiu apenas na minha cabeça e que muitas vezes não foi realizado por não depender só de mim. Ilusão, tempo perdido. Sinto do que ainda vai ser. Sinto por ter certeza que ainda vou perder muitas pessoas, fisicamente ou sentimentalmente. Sei que natural são as separações e inevitável é a renovação. Nem tudo é forte e verdadeiro o suficiente. Nem tudo merece continuar. Angústia. Apenas. Sinto o que é universal. Sinto por toda a humanidade. Sinto por todos aqueles que não são capazes nem de começar a descrevê-la, sinto por aqueles que não a tem incluída em sua língua pátria. Exclusiva no meu idioma, vulgar em todo o resto. Saudade. No plural: saudades. Sinto. Só.

Beijocas :*